sexta-feira, 1 de junho de 2007

Ops! O que é isto?

A curiosidade, leva-me grande parte das vezes, a visitar alguma galeria, conhecer o trabalho de um artista e noutros casos, porque ando com o nariz no ar, “descubro”, por mero acaso, um espaço novo ou o trabalho de algum artista. Por vezes, existem acasos felizes, não o digo porque gosto mas por ter sido surpreendida, tipo: -Ops! O que é isto? E lá vou, ver. É nesta surpresa, seja ela agradável ou não, que o olhar pára para ver. Pode-me acontecer duas coisas, como acontece à maioria dos mortais e sem qualquer pejo ou vergonha, gosto ou não gosto. No entanto, é do conhecimento geral que o artista é um visionário na concepção da sua obra e que o seu gosto antecipa o do público. Não podendo ser indiferente às razões do gosto, interrogo-me sempre: Porque é que gosto? Ou então: Porque é que não gosto? – Mesmo quando não chego a uma qualquer conclusão.
A cultura, enquanto manifestação da vida, colectiva e individual, revela-se num pressuposto de ironia como forma de tratar a realidade. Como tal, hoje somos indivíduos com um passado cultural forte, fruto da própria existência. O passado, é sem dúvida a nossa grande referência, foi assimilado e é apreciado. É vulgar, ainda hoje e a título de exemplo, a venda de colunas decorativas, quer para interiores quer para exteriores, relembrando a grandiosidade da Antiguidade Clássica. Objecto reminiscente, de riqueza, beleza, status e poder que perdura no nosso inconsciente. Não é por acaso que estes elementos decorativos e simbólicos de outrora assumem hoje, diferentes conotações, raiando o “kitsch” por se encontrarem descontextualizados.
Avançando no tempo para um passado cultural mais recente, verificamos que a assimilação do gosto, é um processo lento.
Relembro a “despedida” da Arte Figurativa como a libertação do artista, em meados do século XIX. Neste tempo, surge a máquina fotográfica, os artistas deixam de trabalhar em função de um patrono e dos seus intentos sociais. Já Goya, no século XVIII, afirma a necessidade da expressão individual. De acordo com as influências próprias da época, um grupo de jovens, vem a marcar a transição para a Modernidade - Os Impressionistas. Estes artistas, foram considerados “uns diletantes” que não sabiam pintar “como deve de ser”. Pintavam com pinceladas, aparentemente desordenadas e o próprio conceito de impressionismo, é utilizado como insulto por um crítico da época. Foi um choque ao gosto vigente, hábitos antigos não permitiam a compreensão e o gosto pela nova representação pictórica. Neste grupo de artistas, vamos encontrar entre os mais conhecidos: Renoir, Degas, Cézanne e Van Gogh, que hoje, “todos” já ouvimos falar e admiramos. Passou mais de um século e sentimos uma compaixão pela orelha de Van Gogh, falamos da sua loucura e encontramos nos supermercados, réplicas de girassóis impressos em diferentes suportes:- Pinte como Van Gogh! Cartões com girassóis, pinceladas numeradas e cores correspondentes, ou então ímans para colocar no frigorífico. Hoje, é tão fácil gostar destes girassóis!
É claro que gosto de Van Gogh. Depois dos impressionistas, é uma longa e acidentada caminhada até aos dias de hoje. A maturação do gosto, contínua lenta em oposição à actualidade vertiginosa.
Normalmente, pensamos inconscientemente que acompanhamos a actualidade artística. Acontece que o gosto também se entranha e a assimilação do novo é sempre morosa. Deste modo, ainda nos estamos a habituar visualmente aos primeiros cinquenta anos do século XX e em desfazamento com o gosto perante o avanço tecnológico.
Sei também, que o meu gosto é espartilhado pela memória do passado e que me ilude na aceitação para um gosto novo. Posso sempre, contrariar esta tendência natural da sociedade e educar-me, não desprezar a obra e questioná-la. Com tantos exemplos do passado, certamente já nos cruzámos com alguns Van Gogh´s do futuro, sem saber.


Paula Elvas

5 comentários:

Elsa disse...

Olá, Muito bem!
Gostei particularmente da animação!
Continua...
Bjs

Maria disse...

Gostei bastante do aspecto estético e os conteúdos prometem!
Mas irei visitá-lo com mais tempo e atenção.
Parabéns!

Abraço
nandinha

Anónimo disse...

Boa. É sempre bom encontrar-te!
Como diz a Nandinha, preciso de mais um tempinho para ver com pormenor. Mas gostei da prosa, do tema e do motivo. Já estás nos favoritos, não há como fugir. Um abraço e parabéns. Ohps!
Dali

Unknown disse...

Em grande, Paulinha!
Com mais tempo a opinião será ainda melhor!
Um abraço com atitude, originalidade e força para continuares!!!
Sofia Math

Paula Elvas disse...

Espero ter tempo e espero ser capaz de continuar a actualizar o blog e é claro que preciso sempre da vossa ajuda. Obrigada por me visitarem...beijinhos